O Mundo Anda, Vila Velha Roda
Corrida de toiros em Vila Velha
Passaram poucos meses sobre as eleições autárquicas em que o povo destronou o partido que se eternizara, substituindo-o por pessoas indicadas por um movimento cívico, e a vila nao parece a mesma. À entrada da povoação pode ver-se um cartaz com o símbolo da vila e a frase "O Mundo Anda, Vila Velha Roda”. E roda mesmo, deu-se início às obras de ampliação do Centro de Saúde, de melhoramentos nos balneários do campo de futebol e, nos quatro hectares à entrada da vila, pertença do eng. Bernardo, começaram já as terraplenagens destinadas à zona industrial que ali vai ser construída. Para fins culturais, a câmara adquiriu um lagar de azeite abandonado e está a recuperá-lo para ali fazer nascer um museu e uma biblioteca. Gente da terra que pertencia a bandas filarmónicas da região e o maestro de uma dessas bandas foram convidados para fazer renascer a banda de Vila Velha, que tinha acabado por falta de apoio da autarquia, começando a ensaiar no pavilhão gimnodesportivo, enquanto as instalações até então votadas a actividades musicais foram recuperadas.
A única coisa prometida pelo dr. Rui fora uma corrida de toiros (organização conjunta da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia) e essa promessa foi cumprida.
Um Telles, um Núncio, um Cortes, Paulo dos Santos, Mara Pimenta e a nortenha Soraia Costa toureavam a corrida, que era pegada em solitário pelos Académicos de Coimbra. Os toiros eram um de cada ganadaria, sendo três do baixo Mondego e os outros de ganadarias ribatejanas e foram escolhidos por um amigo do eng. Bernardo entendido na matéria, com a recomendação de que fossem de apresentação digna, sem estarem demasiado grandes. Abrilhantaria a corrida a recém criada Banda de Vila Velha.
Antes de traçar as linhas mestras da organização, o Presidente falou com o Manuel José ( desde que fora eleito nunca mais, nem em privado, tratara este por Larilas) e disse-lhe que caso ele se sentisse violentado por trabalhar na organização duma tourada o dispensava. O Manuel José respondeu que trabalho é trabalho e que não misturava os deveres de funcionário com as suas convicções e que, além disso, desde a viagem a Lisboa e das conversas que tinham tido no carro, estas haviam feito mudar a sua postura perante as corridas.
A publicidade foi entregue ao Rúben, que, com a experiência adquirida na campanha eleitoral, quase andou de porta em porta e, desta vez, com os carros do som nos concelhos limítrofes.
À hora do almoço no dia da corrida já não havia bilhetes e quando esta começou havia umas centenas de pessoas à porta sem poder entrar. O Larilas ficou de conduzir forcados e toureiros ao Pavilhão Gimnodesportivo, para eles ali mudarem de roupa, já que na terra não havia, por enquanto, nem hotel nem pensão e informou que depois da corrida ali seria servido um jantar oferecido pelos engenheiros Bernardo e Aurélio, antigos estudantes de Coimbra.
A corrida foi um sucesso e mesmo aqueles que nunca tinham assistido ao vivo a nenhuma estavam encantados. O Larilas estava fascinado com os forcados, apertava as mãos na cara e ao mesmo tempo os joelhos um contra o outro sempre que havia uma pega e quase desfazia as mãos a bater palmas. Ao intervalo, o dr. Rui desceu à arena, entregou uma lembrança comemorativa a cada um dos intervenientes, pediu o microfone para chamar à praça o eng. Bernardo, que tinha estado sentado na barreira a seu lado, e disse, dirigindo-se aos seus conterrâneos: “ Dados o êxito da iniciativa e a oferta deste terreno pelo sr. eng. Bernardo, para o próximo ano espero que a corrida seja já realizada numa praça que aqui vai ser erigida e que ficará como património da Misericórdia e dos Bombeiros e que terá o nome de Praça de Toiros Eng. Bernardo Soromenho”. Foi o delírio.
Os toureiros e ganaderos reduziram o cachet para menos de metade, tendo-se apurado mais de 30 mil euros limpos, montante com que se iniciou a conta para a construção da praça, tendo sido aberta uma conta na Caixa, em que qualquer um podia fazer um depósito de pelo menos 200 euros, com isso garantindo a colocação do seu nome num azulejo a fixar na parede. Aos donativos mais valiosos corresponderia a 1ª fila, os outros ordenar-se-iam segundo a sua importância.
O jantar, com a presença de toureiros, forcados e seus familiares, mais o dr. Rui, a vereação e os membros da Junta de Freguesia, não podia ter sido mais animado. O Larilas sentou-se na mesa dos forcados e prometeu logo que no ano seguinte tudo faria para ser o mesmo grupo a pegar, tendo, a dada altura, perguntado se alguns dos nomes por que se tratavam eram alcunhas, ao que lhe responderam que sim, retorquindo ele que na terra lhe chamavam Larilas ou Nelinha, mas que de Larilas não gostava, enquanto a Nelinha até achava graça. Risada total, tendo o cabo sido forçado a intervir no sentido de a malta não abandalhar.
De pé, o Rúben e o Bruno Miguel orientavam o serviço e, depois de concordarem que tudo tinha corrido lindamente, o Bruno Miguel lamentou a ausência do Tatonas, respondendo o Rúben "Puta que pariu o Tatonas"...