MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

5º Conto (1º capitulo) - Autarquicas em V. Velha...

Os sete, menos um, decidiram criar um movimento cívico e participar nas eleições autárquicas.


 O tempo ia correndo e o núcleo duro dos amigos da "Inspeção" continuava a encontrar-se quase diariamente no Café Central. O eng. Bernardo, quando estava na vila, também não faltava à noite à hora da bica e o dr. Rui, independentemente do contacto telefónico quase diário que mantinha de forma aleatória com um dos do grupo, quando vinha à vila também não faltava e era vê-lo a debitar novidades do governo e do resto do mundo em termos de politíca internacional.
Um dia, no decorrer de mais uma conversa mole, chegou-se ao tema das eleições autárquicas e ao facto de o Presidente da Câmara já não se poder candidatar novamente. O eng. Aurélio opinou que o delfim do presidente não tinha carisma e que, além disso, não era do concelho. Nesse momento, o Bruno Miguel interveio para dizer: " Nenhum de nós é filiado em nenhum partido nem deu aval político a nada de partidário e, para mais, o povo está farto de partidos. E que tal criar um movimento cívico e apoiarmos nós uma candidatura?... Até já tenho mote, Eu vou à bola com a Santa da Gaiola" ou então "Nasceu cá, vive cá, jogou cá à bola, respira e sente a Santa da Gaiola".
O eng. Bernardo declarou, para que não houvesse dúvidas, que para quaisquer cargos não contassem com ele, porque nunca os aceitaria depois da morte do Estado Novo, quando muito deixava que lhe usassem o nome numa comissão de honra, para atestar a idoneidade dos amigos.
O eng. Aurélio proclamou que quem dava um bom candidato à Câmara era o dr. Rui, propondo para a Junta de Freguesia o Bruno Miguel Coito, com o slogan "Todos no Coito" ou então "O Coito é bom". Todos concordaram e o eng. Bernardo ficou de comunicar com o dr. Rui, a fim de que este se deslocasse à vila no sábado.
O dia seguinte foi de uma enorme agitação, com todos a estabelecerem, desde logo, contactos com pessoas proeminentes da vila, para as sondarem, não podendo os resultados ter sido mais animadores. Enquanto tudo isto se passava, chegou a noticia, via eng. Bernardo, de que o dr. Rui chegaria na sexta feira ao fim da tarde e, mais, o eng. Bernardo, se isto fosse avante, cederia uma loja sua situada no centro da vila, loja essa que lhe tinha sido entregue por morte do arrendatário.
Para sexta-feira à noite ficou marcado um encontro/reunião na adega do eng. Bernardo às 21 horas. Chegaram quase todos ao mesmo tempo, com o dono da casa à porta, que logo os mandou entrar. Em cima da mesa, havia um bloco de papel, uma esferográfica, duas garrafas de whisky, dois baldes de gelo, copos e dois pratinhos com biscoitos. O dr. Rui admirado perguntou : " A que se deve esta reunião?" Foi então que o dono da casa explicou a ideia mãe...
O dr. Rui inicialmente surpreendido, falou e disse : Estava à espera de tudo menos isto, aceitar esse desafio não pode ser uma decisão tomada de ânimo leve - embora eu goste de desafios - e os meus amigos têm à partida uma aliada que é a minha mulher, que está farta de viver em Lisboa e me sugere frequentemente o regresso às origens. Só não dou já o sim porque quero ouvir a opinião dela e a do meu pai. Esmiuçaram o tema e ficaram de se encontrar no dia seguinte às 15 horas no mesmo sitio se possível, já com ideias alinhavadas. O dr. Rui obteve facilmente o apoio da mulher e do pai, que com as lágrimas nos olhos lhe disse : “Vais conseguir filho e comigo contas para o que calhar...”
Até à hora da reunião, foram muitos os telefonemas dos amigos para o dr. Rui, com as mais variadas sugestões, tendo havido um, mais importante, do eng. Aurélio, lembrando que fazer constar o Larilas na lista de candidatos talvez não fosse boa ideia, atendendo à sua fama de gay numa sociedade conservadora como a de Vila Velha, ao que o Dr. Rui respondeu que nunca marginalizaria um amigo do grupo, mas que já tinha uma solução para esse caso. Perguntou ainda ao eng. Aurélio em nome de quem estava a empresa dele, respondendo este estar em nome do sogro.
A reunião iniciou-se às 15 horas, como estava previsto. O dr. Rui puxou duma agenda que trazia na pasta e começou a ler: “Meus amigos, é com muita honra que aceito o vosso convite, havendo, no entanto, uma série de condições das quais depende o meu sim definitivo. A saber:
1º - Quero contar com a vossa colaboração total e absoluta e, mais, que jurem não ir haver entre nós invejas e muito menos traições;
2º - Embora prometa que todas as grandes opções serão democraticamente discutidas entre nós, em última instância serei sempre eu a decidir, contando com a vossa solidariedade;
3º - Será para todos ponto de honra desenvolver uma campanha séria, pela positiva ( que será a primeira do género no nosso País), isto é : referirmo-nos aos nossos adversários sem criticas, dizendo, por exemplo, as ideias deles são boas ou não são más, mas nós queremos fazer melhor… Para abandalhar, já basta os outros, agora reforçados por um trauliteiro;
4º - Quanto às nossas posições nas listas, serão as seguintes: Para a Câmara serei o 1º, o Aurélio o 2º (pelouro das obras,), o Bruno Miguel (cultura, desporto e bem estar) em 3º e o Rúben (parque de máquinas e viaturas e pessoal adjacente) em 4º. O Manuel José ( Larilas) não irá na lista porque tenho para ele um lugar mais importante, que será o de meu chefe de gabinete na campanha e depois na Câmara. Quanto ao eng. Bernardo, gostava de o convidar para presidir à Comissão de Honra, caso isso não colida com os seus princípios;
5º - Para a presidência da Junta, sugiro que se convide o Sr. António José Pimenta, pai do Rúben;
6º Seria bom que cada um, dentro das suas possibilidades, avançasse com algum capital para despesas, devendo falar-se com o pai do Bruno para abrir uma conta lá onde trabalha, conta essa que só poderá ser movimentada com a minha assinatura e de mais dois de vocês. Eu entro já com 1.500 euros (cada um passou ali mesmo um cheque, somando tudo mais de 5.000 euros).
7º – Prometo, por minha honra, que nas festas da vila deste ano haverá uma corrida de toiros, de organização conjunta da Câmara e da Junta de Freguesia..
8º - Para terminar proponho que o nosso lema seja :
" GENTE NOVA DA TERRA, PARA UMA VILA VELHA NOVA"
Aplaudido de pé pelos amigos, que um por um o abraçaram e felicitaram, começaram a definir tarefas. 


O eng. Bernardo disse que aceitava o convite e que na segunda-feira ia mandar ligar a água e a luz na futura sede e mandaria para lá móveis para decorar as quatro divisões.
O eng. Aurélio e o Bruno Miguel ficaram encarregados de arranjar patrocinadores e as assinaturas necessárias para poderem concorrer. O Rúben ficou encarregado de arranjar dois ou três carros velhos para montar aparelhagens sonoras. O Larilas ficou de pintar em madeira o lema do movimento e pregá-lo na parede e de comunicar à imprensa regional e se possível ao Correio da Manhã a realização de uma reunião (conferência) no sábado às 18 horas, para apresentação do programa e dos candidatos no pavilhão gimnodesportivo, etc. O dr. Rui disse que ia a Lisboa no domingo, mas voltaria na segunda-feira à noite.
Vamos agora contar as conversas de cada um dos do grupo na intimidade do lar.
O dr. Rui disse à mulher que já tinha falado com o médico director do centro de saúde (70 anos de idade e 40 de serviço), a quem prometeu uma sessão solene em que lhe seria outorgado o titulo de cidadão honorário de Vila Velha, na presença das autoridades distritais. Ela pediria já a transferência do Centro de Saúde de Lisboa para Vila Velha e ele encarregar-se-ia de agilizar esse processo.
O eng. Aurélio comentou para a mulher que ainda bem que a firma estava em nome do pai dela por causa das incompatibilidades. Com o pelouro que lhe seria atribuído, podia mexer-se à vontade no meio que tão bem conhecia, enquanto a mulher teria com certeza uma avença da Câmara, para a prestação de apoio jurídico
O Bruno Miguel sugeriu à mulher que se desfiliasse do PS, passando a apoiar o movimento, que tudo faria para que ela fosse nomeada coordenadora das creches e lares de 3ª idade do concelho.
O Rúben disse ao pai que deixaria de conduzir e cumprir horários e à mãe e à mulher prometeu que vassouras só em casa, na Câmara passariam a ser continuas com farda e tudo.
O Larilas disse aos pais que ia para um lugar de responsabilidade, deixando assim de aturar mulheres.
O eng. Bernardo sugeriu à mulher que esta poderia vir a ser a responsável da biblioteca e do museu a ser criado, ao mesmo tempo que dizia que talvez agora fosse possível urbanizar aquela parcela de cinco hectares de vinha velha e olival que tinham à entrada da vila.
No domingo, antes de o dr. Rui partir para Lisboa, foram conhecer a sede, para organizar os espaços, e alguém disse que era pena o Tatonas não ter aderido ao projecto, ao que o Rúben respondeu : “Puta que pariu o Tatonas...” 


NOTA : Dada a complexidade do tema, este conto terá 3 capítulos. Este que acabam de ler hoje, sexta-feira, outro no sábado, subordinado ao tema "O Movimento Civico em Campanha" e no domingo " Estrondosa Vitória do Movimento GENTE NOVA DA TERRA, PARA UMA VILA VELHA NOVA".