MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

terça-feira, 14 de abril de 2020

2º Conto - Sta Gaiola e o 25 de Abril...

A romaria da Santa da Gaiola coincide sempre com o 25 de Abril



Santa da Gaiola é a padroeira de Vila Velha, porque reza a história que uma jovem freira, no convento de que hoje só existem as ruínas, sofreu, na cozinha, uma tentativa de violação por parte do capelão, quando ao fim do dia preparava um chá para uma irmã velha e doente. Resistiu como pôde, acabando por tirar a vida ao tarado do padre com uma faca que estava em cima da mesa. A madre prioresa, amante do capelão, castigou-a, despindo-lhe as vestes e fechando-a numa gaiola, e deixou-a morrer ali à fome e à sede. 

Silhueta DE Esqueleto Em Pé NA Gaiola Stock Vector

Pois, meus amigos, quis o destino que a data da romaria à Santa da Gaiola coincidisse como sempre com o 25 de Abril. Nesse dia, numa festa pagã, o povo, abonado de farnéis e cada família com a sua gaiola ) umas mais pequenas outras maiores), juntava-se à volta do convento em ruínas, comia e bebia e ao sol posto juntava num monte e deitava o fogo a todas as gaiolas, simbolizando assim as gentes de Vila Velha o renegar das injustiças.
Neste ano, o 25 de Abril à Sexta-feira proporcionava um fim-de-semana prolongado, tendo por isso a Vila a presença assegurada do dr. Rui e do Tatonas. O dr. Rui veio com a mulher e os dois filhos (rapazes de 8 e 9 anos), sendo que o mais velho se chamava Miguel Maria, Miguel como o avô, e Maria porque era fino, enquanto o mais novo se chamava Rui Maria, Rui como o pai, tendo o Maria vindo por acréscimo, pela mesma razão que assistira ao Maria no nome do irmão, assim tendo começado esta novel família uma tradição.
A Drª Ana Isabel, médica mulher do Rui, arrumou na bagagem um bloco de receitas para deixar aos sogros, tios e padrinhos, as que necessitassem até ao principio de Agosto, altura em que tencionavam voltar à terra, por altura da Festa da Padroeira, depois de duas semanas no Algarve.
O dr. Rui chegou na Quinta-Feira à noitinha, jantou com os pais e foi depois tomar a bica ao Café Central, onde encontrou os amigos da "Inspecção" reunidos na mesma mesa, com o Tatonas incluído. 

Le Café Central | Visit Brussels

Grande festa, grandes abraços e logo começou a converseta. Disse o dr. Rui com um sorriso: " Já pedi à minha mãe que me arranjasse duas dúzias de cravos vermelhos para distribuir por vocês e pelas vossas famílias amanhã, quando formos para a romaria”. Contestou o eng. Bernardo “Para mim dispenso, já mandei limpar e passar a ferro a gravata preta que vou usar amanhã”.
O Tatonas atalhou dizendo que, para ele, os cravos e as gravatas pretas simbolizavam tiques de folclore da sociedade burguesa, ao que o Rúben contestou “Cala-te, és um atrasado de merda…”. Nisto, o eng. Bernardo pontificou : "Haja elevação na conversa politica. Eu sei que o exemplo dos nossos políticos actuais a isto conduz, no tempo do dr. Salazar não se falava assim.". Eis se não quando, o Larilas contestou “Pudera !!! ninguém podia discordar...”
Mais meia dúzia de frases vulgares e acabou a incursão pela coisa politica, assumindo sempre o dr. Rui o papel de moderador. Com o decorrer da conversa, o eng. Aurélio sugeriu que, se tivesse alguém para o acompanhar, oferecia-se para a comissão das festas do ano seguinte, com o propósito de organizar uma corrida de toiros. A ideia foi aceite por quase todos, tirando o Tatonas que disse logo : "Comigo é evidente que não contam", ao que o Rúben respondeu " Nem
para isso nem para outra coisa, nunca fizeste nada na puta da vida"...
Já a noite ía alta quando se despediram, ficando o Bruno Miguel com a incumbência de ir cedo para a romaria e levar dois tractores novos com reboque, para marcar a zona num carvalho antigo onde sempre abancavam, situado no lado esquerdo do convento, que tinha uma copa suficientemente grande para dar sombra a todo o grupo e suficientemente pequena para não dar espaço a intrusos.
O Rúben, sempre prestável, alvitrou : Eu ajudo-te, estou às 9 horas em tua casa e levo um dos tractores…" 

cesto do farnel | Cestas de vime, Cestas, Coisas para lembrar

Às onze da manhã, já estavam as famílias reunidas na romaria. O eng. Bernardo com a mulher e 4 filhos, a Rosarinho de 12 anos, a Carminho de 11, a Piedade de 9 e o Bernardo de 7. O eng. Aurélio com a mulher e o seu casalinho (piroso) - João José de 11 anos e Ana Paula de 8 . O Bruno Miguel com a sua filha única - Vanessa Tatiana de nove anos. O Rúben com a mulher e os dois filhos - Inácio de 12 anos e Rúben de 8. O Larilas e o Tatonas chegaram sós, por razoes óbvias.
Enquanto o Rúben montava duas mesas, improvisadas com uns taipais, as senhoras esticaram toalhas de papel no atrelado e foram expondo os manjares - costeletas de borrego fritas, carapaus de escabeche, rojões, lombo assado já fatiado, tripas de porco temperadas com azeite, vinagre, alho e pimenta, ovos cozidos, costeletas de porco panadas, frango frito, galinha merdeira assada no forno, queijinhos frescos e curados e um especial da serra, coelho bravo desfiado em molho de vilão (especialidade do Rúben) e de casa do eng. Bernardo vieram pastéis de massa tenra, pataniscas, ovos verdes, cujo recheio era aveludado com a mistura de molho béchamel e, como não podia faltar, vinha um tacho dentro dum poceiro acondicionado com jornais, que continha arroz de frango pica no chão, enriquecido com tiras de toucinho velho e enchidos. O Tatonas trouxe os dentes e a sua dieta vegetariana e o Larilas veio abonado do arroz doce da mãe ( sempre um espectáculo) e uma pavlova coberta de gomos de pêra, feita por ele, que deslumbrou ao lado das mousses de chocolate, de leite condensado, de manga, etc, bem como dos bolos de aldeia, do pão de ló, do bolo de iogurte e do de laranja. Pudins não havia. 

A Ciénaga - Venezuela Tuya

Cada família acarretou a sua gaiola, os seus copos, pratos e talheres, assentos e bebidas (vinhos tintos e brancos, sumos e coca-cola para os putos e água que, dado o pouco consumo, era irrelevante).
O tema dominante, durante o dia, foi a tourada da festa do ano seguinte. O Tatonas farto de ouvir falar do mesmo tema, disse : "Vocês podem organizar essa merda, mas contem com uma manifestação anti que eu vou organizar…"respondendo o Ruben : "Organiza.. organiza que talvez te fodas…"