O movimento cívico "Gente nova da terra por uma Vila Velha Nova" apresenta uma enorme e surpreendente dinâmica"
O dr. Rui, além de esperto, inteligente e com grande capacidade de trabalho, tem mostrado em cada dia que passa uma habilidade enorme para a coisa política, começando pela originalidade de não querer fotos de ninguém nos cartazes, panfletos e autocolantes.
Despiu as roupas de marca e passou a apresentar-se de calças de ganga, camisa de quadrados discreta, polar verde seco, um casaco de oleado ensebado e botas de elástico com sola de borracha.
Ele, que sempre cumprimentara toda a gente, continuou a fazer o mesmo mas de forma mais exuberante, tratando pelos nomes os que conhecia bem e distribuindo beijos a esmo a tudo quanto eram velhas e criancinhas.
Pediu ao Larilas que o informasse sempre que houvesse um funeral e lá ia ele de forma discreta, naturalmente sem fato e gravata.
Numa reunião com o núcleo duro, deu a entender que era importante irem ao domingo à missa.
Foi com o Larilas à feira da vila - Os 20 de Vila Velha - e à da freguesia de Berrendos - Os 27 de Berrendos - levando sempre consigo o Rúben ( pela popularidade deste) e mais um ou dois do grupo. Aí comprou cebolas, alhos, meias e quando viu o Rúben a negociar um porco meão para engordar e matar no Natal, disse-lhe se mo engordares, eu pago o que tu disseres, também compro um e comprou sem discutir preço.
Atrás da comitiva, a uma certa distância, vinha um grupo de rapazes e raparigas arregimentado pelo Larilas, a distribuir panfletos e autocolantes.
Logo na primeira reunião, pediu ao Larilas que escolhesse várias hipóteses de um hino para a campanha.
O Larilas no dia seguinte apresentou os exemplos que se seguem :
O dr Rui analisou e escolheu " Somos filhos da madrugada", achando os outros demasiado ridículos, além de que à letra original do " Somos filhos da madrugada" bastava adaptar pouca coisa, que na essencia tinha mensagem forte.
O pai do dr. alugou para ele viver uma vivenda mobilada dum emigrante quase em frente à loja e casa onde vivia. No fim da semana, já a médica tinha, devidamente formalizada, a transferência para Vila Velha. No domingo já foram juntos à missa com os filhos.
Tudo o que era trabalho menos limpo e necessitasse habilidade e descaramento foi entregue ao Rúben, negociar trabalhos tipográficos, pequenas chantagens, aluguer das aparelhagens, convidar o pai do Tatonas, etc. Um dia o dr. disse ao Rúben que precisava de falar com o pai deste, o António José Chicharro, respondendo o Rúben que àquela hora o pai estaria com certeza a jogar uma suecada na tasca da "Bufa Sapateira". O dr. pensando rapidamente disse, vamos lá ter com ele e tu depois de eu lhe dar o recado que tenho para ele, sugeres alto e bom som que ele me convide para uma cartada. Chegados à taberna, a Deolinda (Bufa Sapateira) com ar de espanto disse : Olha o Ruizito, acrescentando dr. Rui, como eu me lembro de si quando aqui vinha comprar rebuçados e jogar matrecos… O dr. abriu os braços para ela perguntando : “Ti Deolinda, posso dar-lhe um beijo? “e vá de beijar a velha. Falou com o Chicharro o que tinha a falar e no fim o Rúben cumpriu o combinado, sugerindo que convidassem o dr. para jogar uma partida. Convite feito, convite aceite. Ocupando o lugar do Chicharro, sentou-se, fez par com o que estava de parelha com o pai do Rúben e deu-se início a uma cruz de 4 bolas, adiantando ele que quem perdesse pagava a rodada.Entretanto, segredou ao Rúben que mesmo que ele ganhasse o Rúben se antecipava e pagava por ele. Ganhou e o Rúben cumpriu a missão.
Há que salientar um aspecto importante. O dr. Rui só tratava por tu quem sempre assim tratara.
As semanas passavam e o movimento cívico seguia imparável, o Rúben ia aliciando gente de outros partidos com promessas veladas, acima de tudo alguns descontentes que tinham sido banidos das listas dos partidos, incluindo o do poder, para as eleições que se iam realizar. O dr. cada dia almoçava num sitio diferente, correndo desde o melhor "Nova Aurora" à tasca mais humilde, o "Tarde Piaste"...
No segundo domingo já comungou, bem como a mulher, e à medida que as semanas passavam só o Rúben não comungava, enquanto o eng. Bernardo sempre o fizera.
De fundo de maneio já havia 30 mil euros. O pai do dr. fazia campanha à sua maneira, dizendo que o filho se candidatava por amor à terra, porque em Lisboa já era quase ministro.
A médica fazia os domicílios urgentes e não urgentes, media a tensão a toda a gente, passava baterias de análises, mesmo perante uma simples gripe, e chegava todos os dias a casa com o carro carregado de batatas, ovos, hortaliças, galinhas, patos, coelhos, chouriças e queijos.
Os partidos de esquerda abandonaram a luta, o trauliteiro nem concorreu e os de direita apareciam já em público como que admitindo a derrota. Nos últimos dias, os carros da propaganda, ao som dos filhos da nação gritavam " Gente nova da terra por uma Vila Velha nova...
No penúltimo dia de campanha, a euforia estava instalada e foi então que o dr. Rui terminou a reunião dizendo” tenho pena que o Tatonas não esteja aqui connosco”, ao que o Rúben respondeu : PUTA QUE PARIU O TATONAS..