Organismo algum incutirá neste povo o gosto pela ópera, a visita regular a museus ou o gosto pela leitura enquanto tivermos que escolher entre gastar o dinheiro nos livros ou nos óculos.
Mas a cultura é muito mais do que isso. São as feiras e romarias, é o fado e o vira minhoto, é a gastronomia, é o jogo do pau e o fandango, são as toiradas… Não serão coisas muito eruditas mas é a nossa cultura, que é vastíssima, gera receitas para o estado e não depende de grandes subsídios.
Porque nos habituamos a lamentar e a esperar, sentados e à sombra, que nos acudam, lamenta-se no meio taurino que deixemos de ver o Governo representado nas corridas como se essa presença fosse uma garantia de continuidade.
Gostámos de os ver lá, assim como gostamos de ver a Cinha, a Lili, simpáticos actores, carinhas larocas e amorosas criancinhas, contrariando a ideia de que se trata de um espectáculo bárbaro para gente sem sentimentos, ideia que os civilizados, organizados, cultíssimos e pouco asseados de outros países da Europa tentam impingir ao povo convencendo apenas os tolos.
Como em muitas outras situações, talvez tenhamos de deixar de contar com o apoio do Governo para que a Festa não se extinga no nosso país. A responsabilidade pela sua continuidade é dos aficionados (sobretudo se assinarem a petição, o que eu já tentei fazer mas ainda não consegui) e é a eles que se devem atenções e a sua eventual ausência que a todos os envolvidos na montagem de cada corrida deve preocupar.
Assim, aficionados Gabriela e Elísio, uma vez libertos das vossas ingratas funções, voltem sempre. Espero ver-vos, a ela de flor no cabelo e a ti de colarinho desabotoado, aplaudindo e vaiando, roendo pevides e bebendo o que vos apetecer.
Margarida Summavielle