Um hino ao toureio de Manzanares, por José Zuquete
Manzanares: a estátua de azul e oiro
A estátua melhor conseguida do toureio do tempo presente está vestida de azul e oiro. Essa é a arte de Manzanares. Amanhecer de toureio, arrojo, sobriedade, classicismo. Plenitude do toureio. Quietude, temple, mando. Entardecer do toureio. Arte serena e em repouso. Rotação da terra em torno do sol como o touro gira em torno da estátua de azul e oiro. Devagar, sem pressa e sem pausa como a estrela na sua órbita, avança a estátua de azul e oiro para o touro. Da manga azul salpicada de oiro pende a muleta. Com o pau da muleta e a espada faz uma cruz. E assim como uma bandeira do toureio, aproxima-se do touro, que é o caminho mais recto de aproximar-se do público. E dá três passes e logo quatro. E outros três em continuação. E assim suave, lento, melodioso, quieto, imóvel, reunido, acoplado, fundido com o touro, vi lavrando as sortes como se lavram estas coisas preciosas da arte do toureio: com uma substância fluida, alada, imponderável e subtil a que se chama estilo. A multidão de pé acompanha os giros do toureiro e o ir e vir do touro, com essas expressões tão arrebatadas e incendiadas que travam remoinhos no vento, enquanto a manga azul salpicada de oiro, faz um pouco de frio… Majestade e seguridade, calma e repouso. E continua toureando, crescendo, crescendo. O valor aquieta a planta. A arte templa a sorte. O domínio liga os passes. O génio inspira a faena. E que faena. Nada de aplausos e clamores que este toureio não é como os demais. Este toureio sente-se, canta-se ou cala-se, que a arte quando nasce assim, das entranhas mais fundas e vivas da alma, não se descreve nem se comenta. Eu queria fazê-lo, mas não posso. Quando o tento, sinto um pouco de frio e faço um ponto final…