Um fado mais actual que nunca..
Oh meu país guerreiro e mareante,
Oh meu país de montes e trigais,
Descansa nos meus braços um instante
E diz-me por favor aonde vais…
Na festa do "Farpasblogue" cantei um poema extraordinário escrito pela Srª. Dª. Maria Manuel Cid que, num momento de desalento em 1975, olhou para o menos bom que se estava a passar no nosso país e recordou valores que, na sua opinião, deviam acompanhar o amor Pátrio.
Neste ano de 2013 a crise económica está a ser acompanhada (ou decorreu mesmo) duma crise de valores.
Os políticos não protegem como seria seu dever as touradas que são tão só a expressão maior da nossa arte genuína e consequentemente da Cultura Nacional.
Parece que esta realidade é atávica...
Por pensar que é assim lembrei-me de escrever esta crónica, que foi precipitada por dois assuntos actuais que passo a expor:
1ª - Porque será que os nossos políticos, Presidente da República incluído, deixaram pura e simplesmente de ir aos toiros - excluindo, justiça seja feita, o Dr. Pedro Santana Lopes, Drª. Gabriela Canavilhas e o Dr. Elisio Sumavielle -, quando há anos atrás se pavoneavam nas corridas de postin? Perderam a aficcion? Iam ás corridas por oportunismo político? Ou pura e simplesmente não dão atenção nem têm respeito pela nossa cultura e as nossas tradições, desprezando assim valores que são a alma de qualquer povo, em nome duma “normalização” asséptica intencionalmente concebida pelos euroburocratas duma ASAE global.
Cá para mim, os políticos abandonaram com o despudor e a impunidade que lhes toleramos distraidamente, as obrigações que têm para com quem os elegeu, esquecendo-se das suas obrigações de cidadania.
2º - A imprensa na generalidade cultiva por sistema a hipertrofia do “desporto”, das tragédias de faca e alguidar, e dos jogos e concursos circenses ( casa dos segredos), entremeadas com a pedagogia subliminar do politicamente correcto e das éticas que não são heréticas.
A prova do que acabo de escrever está nesta paisagem metodicamente adormecida, fazendo fé nos horários nobres e nas primeiras páginas espevitadas de escândalos de um dia e indignações de uma semana, que desaparecem num esquecimento mole, quase silenciando as rosnadelas contra o sistema.
Estaremos de facto sob o efeito de uma maldição secular que torna permanentemente actuais os desalentos de Ramalho Ortigão, do Eça, de Guerra Junqueiro, de Antero e de todos aqueles que, há séculos, reflectem uma “paísa”, não um país, com os contornos de Bordalo Pinheiro. Não existe quase nada de positivo num país, onde não existe quase nada de perene num povo sem memória, nem nervo, nem causas.
Que adormecida apatia nos reduziu a esta dimensão exígua? A este deixa andar, a esta resignação lorpa, em que muitos de nós vivem (ou convivem) com a inveja surda, com a maledicência rosnada e com a impossibilidade de reconhecer valor a quem o tem.
Como é possível, por exemplo, que o saneamento do Dr. Filiupe Graciosa ( o único Português a ser distinguido com a mais alta condecoração pelo governo Francês), e com uma obra notável feita, seja calado por quase toda a Imprensa, menos nós...
Será que temos tanta gente que nos honre, a ser distinguida no estrangeiro com altos galardões?
Custa a acreditar…
Claro que é mais fácil a criticazinha biliosa que nunca saiu de moda, como não saiu de moda o que sucede com a incapacidade míope e mesquinha de reconhecer o devido valor a quem o tem.
Chegámos a um ponto em que estamos todos fartos uns dos outros, prontos a cada momento para iniciar uma discussão ou uma escaramuça, o que me trás á memória um amigo meu que dizia há dias, ter a sua relação com a ex mulher chegado a uma deterioração tal que, quando ele de manhã ao acordar lhe dizia “Bom dia”, ela respondia: “Já começas ?…”
Termino com a última quadra do poema que me inspirou, para esta crónica que deixo ao meu país em crise (sobretudo de valores):
O teu corpo cansado está doente,
O tempo para viver não é demais;
Pára de rir assim tão doidamente
E diz-me por favor aonde vais…