Para quem não sabe, o Dr. Vasco Lucas, teve um percurso no mundillo muito para além da sua posição de veterinário da Associação de Ganaderos.
Começou por aprender a tourear a pé na escola do António Gregório, que coincidiu com a inauguração da praça de toiros do Montijo em 57, sendo a primeira apresentação dessa escola em 1958. Apresentou-se então em público no Montijo, e toureou também em Cascais e Vila Franca. Nesta última praça, abandonou as lides ao calibrar o seu potencial, bem como a meta que tinha de cursar veterinária para melhor se poder documentar sobre a raça de lide, sua grande paixão, podendo assim penetrar nesse mundo apaixonante que é a vida, a selecção e a criação dessa raça que tem como produto final o toiro, esse “assombroso monumento zootécnico”, como assim várias vezes o define de forma brilhante e apaixonada. Durante o curso ainda experimentou os seus dotes de forcado no grupo de veterinária com os, hoje, Dr.s J. M. Vacas, Gabriel Barata, João Fialho e tantos outros. Foi ainda a treinos do grupo do Montijo, grupo esse em que nunca se chegou a fardar. Após o curso, e mesmo enquanto estudava, a sua presença nas corridas, novilhadas, garraiadas e vacadas, era , a bem dizer, permanente. Uma postura discreta, por vezes aparentemente distante, marca a sua forma de estar nas praças de toiros quer seja em Portugal, em Espanha, em França ou na América Latina. O seu saber e sentido crítico levaram-te a escrever nos jornais O Dia, Diário de Notícias, nas revistas Arena e Novo Burladero, e a opinar aos microfones da rádio no celebérrimo programa “Sol e toiros”, de grata memória, e no pequeno ecrã como notável e completo comentarista. Como curiosidade, recordo que com o seu colega Dr. Núncio Fragoso, comentaram a primeira corrida em directo para a República Popular da China, desde Macau. Como palestrante correu o país de ponta a ponta, chegando aos Açores, Angra, mas não só, porque também em Logroño (cidade profundamente aficionada e entendida), e no congresso mundial de veterinária, em Saragoça, quiseram ouvir o seu saber. Nos congressos mundiais de tauromaquia no México, por duas vezes, e na Colômbia, participou como secretário técnico. O mundo Civil reconheceu-o, sendo premiado, por dedicação e mérito, pela Casa do Forcado do Montijo, pela Tertúlia D. Miguel, pelos clubes taurinos de Logroño e de Castellón de la Plana. Haverá quem tenha no mundo do toiro no nosso país uma carreira tão rica baseada no saber? Eu penso que não… Se há no mundo da crítica quem se especialize no toureio a cavalo, no toureio apeado, no forcado, na equitação toureira, nos toiros, ou até mesmo quase em exclusivo nas pelagens e no formato dos cornos dos toiros, em si o saber espraia-se por todas estas vertentes e nunca se cansa de continuar a aprender. Eu, independentemente da amizade que nos liga, gosto de falar com o dr. Vasco Lucas, e gosto tanto mais quanto mais estivermos em desacordo, para assim poder aprender qualquer coisa…. Saio sempre valorizado quando falamos de toiros…
Para terminar, quero aqui e hoje afirmar que o Homenageado é um homem que nunca se tenta projectar naquilo que não é, e nunca é vulgar porque não se esconde em lugares comuns, como o trivial de alguns gigantes anões. Ainda como crítico, não se exibe, não esconde nada do que vê, e tem sempre como objectivo primeiro a justiça, mais ou menos dura consoante as atenuantes, tendo em vista sempre o humanismo e a realidade fáctica com o objectivo de ajudar o criticado à sua evolução. “Só devia ter o direito de criticar aquele que tivesse vontade de ajudar”, disse um dia Abraham Lincoln. Aqui está uma frase que espelha a sua forma de estar na crítica.
De ti, António Vasco, queria ainda destacar, no prisma humano, a quase unanimidade à volta dos valores já atrás dissecados, saber e competência, a que se junta a lealdade, a deontologia e o saber estar em sociedade.
Não é fácil andar neste mundo do touro como anda, o meu amigo Dr. António Vasco Lucas.