Forcados Do Ribatejo31 de Julho de 2012 16:28
Despede-se nesta corrida a realizar no dia dois de Agosto de 2012 na Monumental Praça de Toiros do Campo Pequeno o
Exmo. Senhor Joaquim José Penetra
Esta corrida ficará assinalada pela despedida das arenas do Exmo. Senhor Joaquim José Penetra, que durante o período compreendido entre 1996 e 2008 foi o Cabo do Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo.
Homem exigente, mas em primeiro lugar consigo próprio, provém de uma escola antiga de Moços-de-Forcado cuja escola só dispunha de uma linguagem. A mais dura. A do exemplo. Aquela onde se forjam o respeito e os laços de amizade que vida alguma consegue destruir.
Os seus estudos foram em primeiro lugar ministrados por rigorosos Mestres, seu avô, pai e tio que iniciaram e deram continuidade à dinastia Penetra, cujo respeito pela tradição e traço distintivo se comprova pela posição de colocação do barrete que ainda hoje usa e pela observação e leitura do toiro numa posição frontal quando da sua saída, e depois superiormente continuados sob a orientação desse Catedrático de nome Salvação Barreto, de quem foi o discípulo predilecto.
Dignidade, abnegação, arrojo e vergonha na cara são palavras cujo significado demonstrou por actos próprios pelas arenas do mundo taurino.
Honra, amizade, solidariedade, espírito de grupo e de missão são valores hoje desusados mas que para o Exmo. Senhor Joaquim José Penetra continuam a ser praticados e cultivados no quotidiano.
São Homens como este, naturais líderes de outros Homens, que têm a capacidade e o engenho para transformar um Grupo de Forcados Amadores numa Escola de Homens.
Num breve historial da sua dilatada e riquíssima carreira artística, como o comprovam os 175 toiros que pegou na modalidade de caras e cernelha, merece relevo o facto de se ter iniciado nos juvenis do Grupo de Forcados Amadores do Aposento do Barrete Verde de Alcochete. A sua estreia ocorreu na Monumental Praça de Toiros de Cascais em 1980, com 16 anos de idade e sob o comando do Senhor António Luís Penetra, abrindo praça e à primeira tentativa, a um toiro da extinta ganadaria do Marquês de Rio Maior com 470 kgs. lidado pelo cavaleiro José Mestre Batista. Rezam as crónicas que a pega constituiu um hino a essa tão lusitana Arte da Pega.
Em 1982 foi convidado pelo Sr. José Pedro Faro, através do seu pai, a ingressar no Grupo de Forcados Amadores de Lisboa de Mestre Nuno Salvação Barreto. A estreia com a sua nova jaqueta aconteceu numa tarde inesquecível desse mesmo ano na Praça de Toiros da Malveira, logo ao primeiro da tarde que havia sido toureado pelo Mestre José Maldonado Cortes.
Seguiram-se oito anos ininterruptos sob o comando de Mestre Nuno, tendo sido durante esse período e apesar da sua juventude o Moço-de-Forcado com mais toiros pegados no seio do Grupo de Lisboa.
Na temporada de 1990 e após convite efectuado pela Direcção do Aposento do Barrete Verde de Alcochete e do Cabo do respectivo Grupo de Forcados não resistiu ao apelo da "Alma Alcochetana" dos seus antepassados e acedeu a regressar ao Grupo onde se iniciou, recebendo a jaqueta de Cabo no final de Julho de 1992 na Praça de Toiros Carlos Relvas, então gerida pelo saudoso Sr. Jorge Pereira dos Santos.
Porém, o destino reserva-lhe novos desafios. Num encontro casual na Feira da Gastronomia em Santarém com o Sr. Pedro Colaço e depois com os Srs. Carlos Mancão e Paulo Feijoca, todos eles Moços-de-Forcado em actividade no Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo, foi desafiado e depois convencido a abraçar um projecto difícil que consistia em aceitar a jaqueta de Cabo dos Amadores do Ribatejo numa altura em que este Grupo vivia uma complicada fase de transição depois de se ter despedido o seu marcante e carismático Cabo Sr. Rui Souto Barreiros, que numa determinante reunião em Alcabideche lhe concedeu a sua “bênção” para tão ingrata e delicada tarefa.
Assim, o dia 13 Fevereiro de 1996 marcou o início de uma nova era para o Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo, pois foi na Praça de Toiros do Sítio da Nazaré - desse grande empresário que foi o Sr. Pires – que comandou o Grupo do Ribatejo pela primeira vez, seguindo-se mais 17 espectáculos até final dessa temporada.
Felizmente, como bem auguravam os elementos que o convenceram, a sua experiência, Arte e engenho foram mais do que suficientes para comandar o Grupo do Ribatejo, lenta mas seguramente, através de um percurso de renovação e consolidação de valores bem como na recuperação da sua postura de sempre, atravessando uma época de profundas mudanças na Festa Brava e na Forcadagem em particular marcada por várias rupturas em relação às décadas precedentes, o que em muito o honra nesta longa caminhada de doze anos como Cabo de Forcados do Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo.
Durante a sua longa carreira artística como Moço-de-Forcado, passeou classe, saber e toreria por quase todas as arenas do Mundo Taurino Português desde Viana do Castelo a Vila Real de Santo António, de Elvas a Cascais e passando pelo seu muito querido Alcochete natal, Évora, Montijo, Cartaxo, Almeirim, Vila Franca de Xira, Setúbal, Moita do Ribatejo, Nazaré, Figueira da Foz, Póvoa de Varzim, Idanha-a-Nova, Coruche, Abiúl, Estremoz, Azambuja e tantas outras.
Na Monumental Praça de Toiros do Campo Pequeno continua, que se saiba, a deter o recorde de 5 toiros pegados de caras na mesma temporada.
Também a aficionadíssima Angra do Heroísmo nas suas Sanjoaninas honrou com a sua actuação. No Funchal marcou presença numa das rarissímas Corridas de Toiros aí montadas, na ocasião pelo saudoso Sr. Victor Ribeiro.
Mas também em arenas de Espanha - nomeadamente Cáceres, Móstoles, San Roque, Atarfe – e França - Mont-de-Marsan, Dax, St. Vicent-de-Tirosse, Nimes, só para citar as mais conhecidas – enfrentou o perigo ombro a ombro com os Homens que comandava.
Quanto às Ganadarias, nutre um enorme respeito e carinho por todos aqueles que têm a difícil arte de criar toiros de lide. Contudo, os nomes de Passanha, Grave, Prudêncio, António Silva, Fernandes de Castro, Infante da Câmara, Núncio e Rio Frio ocupam um cantinho muito especial no seu coração.
Não pode deixar de agradecer, reconhecidamente, a todos os Centros Hospitalares, Médicos, Enfermeiros e Socorristas que o ajudaram a ultrapassar as inúmeras mazelas que, graças à sua postura de verdade e vergonha na cara, sofreu.
Também uma palavra de profundo agradecimento e admiração a todas as Corporações de Bombeiros que estão sempre disponíveis para ajudar e albergar todos os Grupos de Forcados por esse País fora.
Olhando para trás verifica que valeu mesmo a pena servir e agradece o contributo que todos, mas mesmo todos, os Moços-de-Forcado que um dia sentiram o Medo consigo...
Não pode deixar também de invocar e homenagear os Empresários Taurinos já falecidos. Como sejam os Exmos. Senhores Alfredo Ovelha, Jorge Pereira dos Santos, José Agostinho dos Santos, Mário Freire e Manuel Gonçalves pelo contributo sério que prestaram à Festa.
Finalmente, um Agradecimento Especial a TODOS OS MOÇOS-DE-FORCADO QUE PASSARAM PELO GRUPO DE FORCADOS AMADORES DO RIBATEJO, DIRECÇÃO ANTIGA E ACTUAL, BEM COMO AOS AMIGOS, AFICIONADOS, CRÍTICOS TAURINOS/CRONISTAS E EMPRESÁRIOS, NUNCA ESQUEÇENDO O APOIO PRECIOSO DA SUA FAMILIA E EM ESPECIAL DA ESPOSA E DOS FILHOS, QUE ACREDITARAM NESTE PROJECTO AGORA CONTINUADO PELO SEU PUPILO JOÃO MACHACAZ.
O Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo jamais pode esquecer a importância e protagonismo que o Exmo. Senhor Joaquim José Penetra teve na renovação e consolidação do Grupo no período em que foi o seu Cabo e não só e cujos resultados são hoje visíveis.
Ficará, certamente, neste segundo dia do mês de Agosto de 2012 a Festa mais pobre e órfã do seu, quiçá, derradeiro Romântico que tudo lhe deu e dela jamais algo esperou.
Apenas nos resta agradecer reconhecidamente, de voz embargada, tudo aquilo que tão distinto Artista fez e representou para o Grupo. E se, porventura, o Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo foi, nalguma ocasião infeliz, pequeno para merecer a grandeza do seu carácter e personalidade só nos resta lamentá-lo.
Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo