Boa corrida em Évora no dia de S. Pedro
Com quase três quartos de casa, assistiu-se a uma corrida que por ter sido televisionada, resultou numa belissima propaganda para a "FESTA".
Os toiros "Pinto Barreiros" sairam bem, exceptuando o segundo com problemas de visão e o quinto que transmitiu menos que os outros, e os toureiros estiveram todos, cada um no seu estilo, por cima dos toiros aproximando-se do melhor que são capazes.
Bastinhas renasceu, está para durar e dar cartas, e como sempre fica bem em qualquer cartel com o seu estilo inconfundível.
António Ribeiro Telles - Deu uma lição de tourear. O Toiro que lhe tocou tinha problemas pelo lado direito, deu-me a ideia que tinha uma qualquer refracção nesse olho que se assemelhava a estigmatismo, embora este tipo de deficiencia de visão, normalmente só acontece nos dois olhos em simultâneo. Quando o Cavaleiro da Torrinha partia para a sorte o toiro investia, depois deixava de o ver e só voltava a reagir quando o conjunto "cavalo cavaleiro" estava muito próximo, impossibilitando a sorte com essa mangada tardia o que resultou em saídas em faso. Foi então que o mestre António Ribeiro Telles, percebeu que tinha que entrar ao piton contrário, o que fez com toda a segurança. No final da lide, saboreei a grande lição de toureio a que tive o prazer de assistir .
Ser toureiro é dar a cada toiro a lide exacta sem abdicar dos conceitos que escolheu como matriz.
Luís Rouxinol - Não sabe tourear mal, e por isso teve mais uma boa actuação marcada sobretudo por um comprido e por um excelente par de bandarilhas a duas mãos.
A vontade de triunfar esteve presente como sempre, e chegou ao público que sempre o respeita e admira, com a força habitual.
Desta vez não sacou o cavalo "Vinhas" optando por preencher todo o tércio de Bandarilhas com a égua, o que o impediu, na minha óptica, de ter uma actuação redonda, toda em crescendo como é hábito. Quis jogar pelo seguro, ele lá sabe...
Luís Rouxinol é um grande toureiro e está num excelente momento.
Gilberto Filipe - Só surpreendeu quem não o acompanhou desde os seus principíos em amador. Sabe andar a cavalo e por várias vezes ao longo da sua carreira esteve próximo de dar o salto, no entanto a vontade forte de triunfar levou-o muitas vezes a abastardar boas actuações no final, e estou-me a lembrar de quando sacava como remate das lides um cavalo palomino extraordináriamente aparatoso mas que se tirava pouco, que o levou em corridas importantes a borrar boas pinturas.
No sabado esteve seguro, não se lhe viram precipitações, apresentou cavalos bem arranjados echegou ao público mostrando claramente o seu potencial.
João Moura Caetano - Marcou já como sua pertença, um toureio diferente e uma postura igualmente diferente.
O seu toureio é marcado invariávelmente desde o início das lides por sortes de praça a praça como há muitos anos se não via. O tércio de bandarilhas é marcado pelo temple e pela emoção de forma indelével.
A lidar, explana uma calma sentida que aproveita para recuperar os cavalos, e o deixa pensar calmamente no que vai fazer, e que ao mesmo tempo transmite ao público uma segurança no traço.
As sortes são bem desenhadas, o momento do ferro é correcto e a classe brota naturalmente, começando pela forma de montar e pelo arranjo das montadas. Sangue na barriga dos cavalos não há e as duas mãos só surgem nas rédeas muito episódicamente como manda a tradição.
Um toureiro diferente de todos que se impõs com uma quadra de eleição.
Não poso deixar de lembrar que o ferro da corrida é seu - o que já se vem tornando uma imagem de marca -., e que eu vou tentar descrever: " O toiro arancou-se forte com não tinha feito até esse momento, quando toda a gente pensava que o cavaleiro ía desfazer a sorte, João Moura Caetano recua duas ou três passadas na cara do toiro para se pôr em sorte, saindo limpo sem um toque, deixando um ferro para recordar.
Para terminar quero acrescentar que, para tudo corra pelo melhor, vai toureando sempre em praças cheias o que lhe eleva a moral, naturalmente...
João Maria Branco - Só surpreendeu quem não acompanhou a sua carreira desde amador. É, e afirmo-o com a certeza de muitos anos de experiência, uma figura em potência.
Quem o conhece lembra-se das suas actuações em amador em Vila Franca há dois anos em Outubro, na Povoa do Varzim e em Cuba ou em Montemor-o-novo e Moura onde ganhou prémios na época passada, e mais umas tantas, que deixavam antever o que mostrou no sabado como já tinha mostrado em Aljustrel.
O seu novo cavalo "Zinco" (ferro Paim) juntou espectacularidade ao seu desempenho - viu-se como o público reagiu -, e o seu valor (coragem) que nunca ninguém lhe negou ganhou uma expressão maior.
Nos compridos esteve correctissimo, e as piruetas na cara do toiro foram de arrepiar.
Tal como eu previ há cerca de um mês, nasceu no sabado uma nova esperança séria e não factual, no nosso panorama taurino na vertente do chamado toureio moderno mas sem exclusividade de "murubes". A margem de progressão é enorme, o apoderamento não pode estar mais bem entregue, e a partir desta corrida só se podem esperar melhorias, independentemente de algumas verduras da juventude.
Grp de Forcados de Évora - Uma actuação séria e verdadeira e uma demonstração plena da unidade do grupo.
Por ser dia de festa do grupo não pensava distinguir ninguém, mas não posso deixar de dar destaque á pega, plena de técnica, de Francisco Garcia ao 2ª da noite ao qual tirou a maldade.