João Moura Jr, Duarte Pinto, João Moura Caetano e João Maria Branco
Eu acreditei, e eles também
Há cerca de mês e meio, mais ou menos, escrevemos aqui do quanto eram importantes para J. Moura Jr, Duarte Pinto, João Moura Caetano e João Maria Branco, as corridas que se avizinhavam acrescentando acreditar no valor de cada um para ultrapassar a sua carreira e relançá-la a outro nivel. Muito simpáticamente, como devem estar lembrados, qualquer dos quatro me escreveu agradecendo as minhas palavras numa altura tão importante das suas carreiras.
Acertei em pleno. Moura Jr triunfou em Madrid e viu as portas das grandes feiras de Espanha abrirem-se. Duarte Pinto triunfou em Santarém e no Campo Pequeno com a verdade na sua expressão clássica, e juntou-se ao primeiro pelotão. Moura Caetano triunfou em Madrid onde foi obrigado a dar volta e Badajoz vindo a estabilizar a sua linha de toureio diferente que depurou em Alcácer e Évora. O praticante João Maria Branco deslumbrou em Évora com o binómio " alegria - emoção" que tantas vezes tem andado arredio das nossas praças de toiros.
Mas tudo isto aconteceu porquê????!!!
João Moura Jr - Debateu-se sempre com o facto de a sombra do pai em nada o beneficiar, já que as expectativas criadas á sua volta foram enormes, e se ao principio tudo lhe perdoavam, mais tarde deixou de ser assim.
Nas corridas importantes, a sua juventude projectada na ânsia de triunfar, tirava-lhe discernimento na hora de matar, originando que boas actuações terminassem em função do rojão de morte, tão só em "Silêncios ou Aplausos".
Tornou-se imperioso um banho de humildade e uma dieta de traquejo de pueblo em pueblo, e ainda o dar um toque pessoal á matriz da escola em que bebeu.Sacrificou-se duas temporadas, toureou por toda a Espanha sem olhar a ganadarias nem á categoria das praças, e assim surgiu a madurez que lhe permitiu chegar hoje onde está. Aconteceu em Madrid, como podia ter acontecido em Valência ou em Sevilha, mas via-se que estava iminente.
Agora viajará em velocidade de cruzeiro porque fez por isso, e só um cataclismo o fará andar para trás.
Duarte Pinto - Quem o conhece desde amador, sentia que o Duarte escolheu desde a primeira hora o caminho dificil da verdade. Tinha tudo para conseguir trilhar esse caminho, estava bem a cavalo, os cavalos estavam bem arranjados e tinha intrinsecamente valor ás carradas. Havia dois detalhes que não estavam conseguidos, tratava-se de uma compreensivel excessiva preocupação na condução das montadas ( o contrário é que seria pior), e de um certo alheamento para com o público que vinha em função do detalhe anterior. Acresce ainda o facto de os cavalos para fazerem de forma limpa as sortes como ele quer, necessitarem de uma certa rotina para se confiarem e para o cavaleiro confiar neles.
Durante a última temporada o Cavaleiro via-se crescer dia a dia e a segurança dos cavalos também, o que projectava a iminência daquilo que se viu em Santarém e no Campo Pequeno, duas lides redondas num registo de toureio clássico puro e duro. Só podia ter acontecido o que aconteceu, como era para mim evidente...Agora moralizado, venha o que vier...
João Moura Caetano - O tourear quase só em cavalos postos por si, pressupõe um coalhar da sua tauromaquia mais dificil poque acidentado, que mais se nota quando em termos de equitação existe uma busca implacável de perfeccionismo.
A sorte de praça a praça que tanto tem impressionado os aficionados, não apareceu agora por acaso, já lha tinhamos visto executar há trê anos com o "Gabarito" e com o "Verdi", e a sorte em curto de forma mais que templada em terrenos de compromisso também já a tinha executado com o Passapé.
Com uma quadra finalmente rematada e rodada, o toureio diferente veio ao de cima, repousado nas lides, suave na condução das montadas, carregdo de emoção e o mais possivel dentro das mais importantes regras de tourear a cavalo, "citar, templar, mandar, cravar de alto a baixo e ao estribo, lidar com sentido e sentimento e dar todas as vantagens aos toiros", resumindo assim todos estes itens num toureio diferente, porque pensado para atingir aquilo a que se propõe. Não se lhe vê carreiras, nem martingalas, nem sangue na barriga dos cavalos, normalmente uma mão chega para a condução das montadas, e a tudo isto podemos juntar um estar que o torna ainda mais distinguido.Com todos estes pressupostos, João Moura Caetano, coalhou o seu toureio e coalhou como toureiro, como sempre previ...
Vivo, valente, e com gancho para o público, João M. Branco chegou a Évora e deslumbrou, deslumbrou sobretudo aqueles que não o conheciam ou conheciam mal. A sua aprendizagem foi segura toureando de inicio com cavalos postos por si com o que isso tem de positivo. A valentia sempre esteve patente tal como a intuição, faltava-lhe só tempo e oportunidades.
Porque se trata de um jovem, muito jovem mesmo, o que vou escrever terá a componente didáctica que ele compreende melhor que ninguém, por se tratar de um rapaz humilde cheio de vontade de aprender e que sabe que tem muito que aprender, e está consciente de que a sua margem de progressão é enorme.
João, deslumbraste em Évora, mas não te deslumbres porque a carreira de um toureiro é muito dura e embora eu saiba que estás preparado para tudo, o deslumbramento podia atrasar ou até atirar borda fora tudo o que já fizeste.
Tu és para mim a grande esperança do futuro, para mim e para muita gente, concentra-te e põe calma muita calma mesmo quando fores tourear, o mundo não acaba no fim da lide de cada toiro...
O futuro a ti pretence...