Meu caro Tito Semedo:
Registei o teu correcto telefonema a propósito do que escrevi dos prémios da corrida de Albufeira, e não posso nem quero deixar passar em branco o que me disseste.
Antes porém, não será de mais repetir que o senso de humor sempre andou arredio dos Portugueses. Só conheço dois casos de pessoas´públicas que reagiram bem ás critícas humoradas que lhe foram feitas, como foi o caso de sua Majestade El Rei D. Carlos que visitou uma exposição de Bordalo Pinheiro onde era dura e mordaz mente criticado, e a reacção do Dr. Mário Soares ao livro ( Soares é Fishe) do cartonista Augusto Cid, que o desancava forte e feio.
A titúlo de curiosidade transcrevo de seguida parte do prefácio do dito livro, escrito pelo Dr. Mário Soares:
«Durante todo o período que vai da Revolução de Abril até hoje, fui um dos alvos preferidos de Augusto Cid, muitas vezes – como lhe cumpria – por forma acidamente corrosiva. Mas sempre com graça, procurando pôr a nu as debilidades e os ridículos das situações de algumas atitudes políticas menos felizes que, quanto a ele, tomei e que foram, por ele, escalpelizadas sem contemplações. Por isso lhe estou grato, uma vez que sempre considerei a livre crítica como um contributo indispensável para uma acção acertada, e o humor crítico bem como o traço impressivo em que se traduz, na caricatura, como um dom artístico absolutamente superior, uma graça dos deuses…»
Meu caro Tito, como sabes, sempre tive por ti a maior estima e consideração e em nada do que escrevi quis ofender-te, além do mais porque a responsabilidade do que aconteceu foi de quem votou. A metáfora que usei, disse-me o meu amigo Vasco Bettencourt, já a tinha usado em relação ao prémio que foi atribuído a um dos meus filhos quando ganhou o prémio para a melhor pega em Montemor o Velho, que é tão só a minha região e onde o juri nãso nomeado por mim, era constituído por amigos meus.
Se te ofendi ou te prejudiquei com a metáfora que usei do Padre da freguesia de S. José, peço as maiores desculpas , mas sabes bem que sempre tive por ti a maior estima como homem e a maior admiração e respeito como toureiro.
João Cortesâo