Excerto da entrevista de Nuno á SIC :
O que é que eu faria diferente?
Não faria nada! (…) Não mudava nada! (…) Não me arrependo de nada, de ter sido forcado, porque não era a pessoa que eu sou hoje. Eu costumo dizer que não fui forcado, eu sou forcado. É uma maneira de estar, é uma forma de encarar a vida. (…)
Se eu conseguisse recuperar, o meu maior orgulho era vestir uma jaqueta e voltar a pegar um toiro!”
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Meu querido amigo Nuno Carvalho "MATA":
Este fevreiro é um mês cruel, tão cruel como qualquer outro para que a vida seja enfrentada e se renove.
Curvo-me perante a tua força e acima de tudo perante a tua naturalidade, esse bem inestimável com que nasceste, e que faz rodear-te de toda a gente de um mundo por vezes tão complicado como é o mundo do toiro, que não raras vezes é compadre de batalhas sem nexo, que no látego de invejas e vaidades se espelham.
Nas dificeis encruzilhadas da vida só sobrevivem aqueles que são capazes de olhar o futuro com grandeza de alma, e olhar o passado com a lucidez de quem sempre viveu de bem com o mundo, de bem com a consciência e que nada tem preso por não ter feito ou omitido.
Conheci-te já lá vão nove anos. Fizemos juntos centenas de Kms, jantei e almocei contigo n vezes, dormiste em minha casa, coincidimos em casa de vários amigos, falámos horas muitas, e nunca ouvi da tua parte, uma conversa com pitada de veneno a propósito de outros amigos, muito menos forcados, e se possivel, ainda menos do AP MOITA.
Em ti reinava sempre o humor, a boa disposição e a paixão louca de pegar toiros. Nas épocas em que te afirmavas no teu grupo, muitas vezes dizia-te que eras como os cavalos novos só pegavas em desmontáveis, ao que respondias com gargalhadas francas e sonoras sem ponta de melindre, reagindo como só os tipos bem formados são capazes.
Nos jantares do grupo, escolhias quase sempre a mesa dos mais novos que lideravas em alegria e loucura.
Nos treinos cansava ver-te sempre a recortar-te, e de quando em vez não resistias a ficar na cara da vaca ou do novilho abraçado, repousando assim a paixão de pegar uma rez brava que te fervia na alma.
Começaste a fazer grandes pegas, mas nada se alterou no teu comportamento. Eras o mesmo e és o mesmo, apaixonado pela arte de pegar toiros, amigo do seu amigo e positivo na vivência.
A vida, meu caro Nuno, é uma sucessão dinâmica de acções que, por isso, está em permanente mutação e a emanação de circunstâncias adversas, a seu tempo muda o espaço, o ritmo e o uso que dela fazemos, em conformidade com a força interior e a lucidez de cada um. A vida para ti mudou ( eu ainda tenho fé que seja só temporáriamente... ) mas a forma como a vives sem recalques, revoltas ou complexos, torna-te um exemplo, uma referência para uma geração que na generalidade teve tudo.
Neste momento acompanho-te convicto na fé que te ilumina, e como escreveu Angel Peralta, há que chamar pela fé com força e naturalidade:
Como un niño a su madre
Como un jovem a su amor
Como um marido a su esposa
Y como un hombre a su Dios.
Neste momento, o mundo sabe porque viu nas tuas palavras na entrevista que concedeste a um canal de televisão, que no madrugar desta tua nova vida, largas ao mundo os aromas da vida de forcado que foste, és e serás sempre, em palavras dispersas mas medidas que te tornam diferente, dignam a forcadagem e fazem pequenos os teus amigos ao lado de tanta grandeza de alma. A esperança mantenho-a, não a dou, nem a vendo, nem troco por nada esta ansiedade, sabendo que a esperança mora ao lado...
Alguém disse :"A esperança inquebrantável é força. A esperança mesclada de dúvida é covardia. A esperança mesclada de temor é fraqueza."
As tuas palavras ditas no fim da entrevista, mostram essa esperança inquebrantável que é força. Força Nuno, eu acredito!!!
A"FESTA" a quem tanto destes, vai continuar a precisar de ti, e serás util proferindo conferências, testemunhando ao mundo a tua experiência, como Forcado, como Homem e como aficionado.No teu Grupo e no mundo dos românticos da "FESTA" que são os forcados, homens carismáticos como tu, cada geração tem um, se tanto...
Nuno, meu querido amigo, é com esta foto que guardo religiosamente em minha casa, de ti a pegar um toiro na Daniel do Nascimento na tua terra Moita do Ribatejo menina dos teus olhos, com a primeira ajuda do teu amigo e meu filho António, que sobejo de fervor, afundo as raízes da nossa amizade que me levaram a escrever-te esta carta "P'ra que a terra não esqueça".