Por José portela
A prostituição do toiro de lide
(Este artigo de opinião é dedicado aos ganadeiros, aos grandes empresários taurinos, aos médios empresários taurinos, aos pequenos e micro empresários taurinos, aos organizadores de festejos populares taurinos, aos autarcas das ditas cidades taurinas, ou seja, a todos aqueles que produzem ou transaccionam o barro para fazer Tauromaquia, seja ela na praça de toiros ou na rua.)
Das corridas de toiros de aparência mais séria, tal como um concurso de ganadarias numa capital de distrito, até à mais pobre largada com ruas fechadas entre carroças e contentores do lixo, permanece um denominador comum: O toiro.
Tal como sabemos, o toiro é um animal que sentiu de geração em geração a correcção das suas faculdades morfológicas, e não só, com vista a um único propósito: a sua lide.
Posto isto e á luz do século XXI, há que defender o toiro de lide em qualquer circunstância, até porque se não formos nós, os aficionados, a defendê-lo coerentemente, haverá sempre alguém que o venha socorrer radicalmente.
Assim sendo e passando ao assunto, confesso que me custa ver ano após ano, o fenómeno da “prostituição” pura e dura do toiro de lide, traduzida na sua utilização abusiva e imprópria. Percebo que o termo é forte, mas não me ocorre outro.
Os mais tradicionalistas e acomodados, dirão com certeza que o toiro é propriedade de alguém, e que se esse animal teve a sorte de nascer, então deverá ter uma utilização infinita de acordo com a sanidade dos seus cascos.
Pois bem, eu acho exactamente o contrário e concluo que é uma vergonha para a Festa em si e para os próprios aficionados, a forma como se trata a maior parte dos toiros em Portugal após a perda da sua pureza. E aqui os culpados conhecem-se e cumprimentam-se de longe!
Depois de 3 ou 4 anos de vida saudável na sua ganadaria de origem, e após demonstrada a sua imaculabilidade na praça de toiros (algumas de primeira categoria), muitos toiros acabam transaccionados de forma grosseira e embarcam numa vida completamente inversa àquela para que foram criados.
Perdida a sua pureza, perdido o seu valor! Faz lembrar algo, se faz…
Seguem pois, para uma campanha sem lei nem regulamento, baseada em anos a fio de largada em garraiada e de camião em camioneta.
E onde esta a nossa coerência?
Por um lado, afirmamos em tertúlias de amigos que a morte do nobre toiro na arena seria a mais justa e adequada e, por outro, acendemos mais um cigarro quando da bancada vemos o miserável bovino a regressar aos currais, sabendo á partida que mais de metade dos toiros em Portugal, seguem para um mercado paralelo.
O facto de não se poder matar o toiro em praça, não condiciona o seu abate num matadouro oficial após a lide, custe o que custar a quem fica sem as mais valias!
Sem querer mergulhar nesse sub-mundo do marchante de toiro de lide, esse “Job” que até já dá status na Festa, sinto no entanto o dever e a obrigação de o contestar.
É preciso por isso, fazer algo que trave este fenómeno que, se por um lado continua a encher os bolsos de uns, por outro está a desvirtuar o conceito de ganadaria tal como a conhecemos.
Mas no meio desta rotina, não é só o toiro como animal que sai prejudicado, mas também a Festa propriamente dita, senão vejamos: Ao passo que em Espanha, em comunidades como Valência, Madrid ou Salamanca, os toiros que vemos nas ruas tem cada vez mais qualidade, ou seja, são (cada vez mais) integralmente puros, em Portugal passa-se exactamente o contrário.
Do meu ponto de vista, é constrangedor presenciar festejos populares taurinos, como as Festas de Vila Franca de Xira, Moita ou Azambuja, com milhares de pessoas a assistir, e centenas de recortadores (cada vez menos), a dar o corpo ao manifesto e, dos currais sai tudo aquilo que nunca devia sair. É isto que também ajuda a matar festa.
Em contraste, é com alegria que vou aos encerros de Ciudad Rodrigo ou de San Sebastian de Los Reyes assim como a pueblos “pobres” de Espanha, e vejo quase sempre novilhos ou toiros puros, para desenvolver aficion e dinamizar o comércio do toiro à porta da ganadaria de origem.
Será só uma questão de financiamento? Pois não será com certeza! Julgo que é mais uma questão de interesses económicos em prol de um sistema instalado, mas que terá os anos contados, levando consigo a Festa.
Constato pois, que ano após ano, em Vila franca de Xira, na Moita ou na Azambuja os toiros são cada vez mais para os tolos e para os bêbedos, até porque se há toiros a 200€, pois venham eles que fazem a festa na mesma!
Quer queiram quer não, meus amigos: “O país que desprezar o integridade do toiro e a tauromaquia popular, fica mais tarde ou mais cedo sem corridas de toiros.”