Sim, além de poder deverá sê-lo, mas não apenas um líder, um conselheiro, um disciplinador de homens, frontal, directo, honesto e porque não amigo.
E todos os cabos têm estas características?
Lá isso não sei, porque nem a todos conheço, mas que existe pelo menos um que as tem não tenho qualquer duvida, é o Bernardo Patinhas. Herdou a génese taurina do seu pai, o lendário João Nunes Patinhas, homem frontal, com muitos amigos, e convenhamos dizer alguns inimigos, porque o Patinhas pai, diz o que pensa e isso no mundo dos touros dói a alguns.
Mas voltemos ao Bernardo, é efectivamente um disciplinador de homens, basta ver a postura do Grupo na trincheira, onde só o líder (cabo) está à frente do grupo, é ele que toma as decisões (certas ou erradas), e quando necessário mostra a liderança, é ele que pega no seu barrete e demonstra aos restantes colegas do grupo que sabe fazer e como se deve fazer. A comunicação neste grupo, é muitas vezes feita apenas com uma troca de olhares entre o cabo e o frocado, prova que o grupo está bem interligado, e que os mais novos já aprenderam os ensinamentos do “mestre”. Não me recordo de ver o Bernardo gritar, gesticular, atribuir culpas a terceiros, tudo é feito com naturalidade e sem alaridos. E a disciplina deste Grupo de Forcados Amadores de Évora é tal, mesmo estando numa fase de renovação onde a juventude impera, que os elementos mais novos já assimilaram a humildade e o espírito de ser forcado. São rapazes simples e humildes que dentro de praça desafiam o bruto com um sorriso, em troca de uma volta à arena, umas palmas, por vezes uma flor e um sorriso de uma rapariga, mesmo que seja tímido. E é esta disciplina de grupo, que seu pai implementou e que Bernardo perpetua agora no grupo, que leva a que os elementos peçam desculpa ao cabo e ao grupo, qual meninos de coro arrependidos, porque a sua prestação não foi a melhor, mesmo que tenham a cara e o corpo cheio de hematomas e arranhões, por vezes algumas costelas partidas, face muitas vezes à violência dos hastados, mas a simplicidade de ser forcado é isso.
Este GFA de Évora com 48 anos de história, estreou-se no Redondo no dia 11 de Agosto com touros de Lampreia e com os cavaleiros José Mestre Baptista, José Cortes e António Anão, fizeram nessa tarde as cortesias João Patinhas, Joaquim Goucha, Manuel Ramos, João Mário, João Franco, Estevam de Lencastre, Manuel Peralta, Francisco Abreu e na trincheira estavam mais cinco forcados. Foi o inicio de uma história, de altos e baixos como todos os grupos, e que agora na pessoa de Bernardo Patinhas se continua a perpetuar com a mesma dignidade que seu pai a começou, e com a protecção divina de seu irmão João Nuno.
Marco Gomes