MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ainda a propósito dos “cavalos que mordem toiros”, considero o seguinte:

Segundo aprendi, Arte é entendida como a actividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objectivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores, dando um significado único e diferente para cada obra de arte.
Ora, sendo a Tauromaquia uma forma de arte e não um desporto ou tradição, a lide de um toiro, segundo o meu ponto de vista deve ser entendida e apreciada como uma obra de arte.

Não fugindo ao assunto e referindo-me aos ingredientes essenciais da lide de um toiro, tal como está descrita na literatura antiga e/ou actual, o sentimento de emoção resultante do factor perigo numa corrida de toiros é uma das pedras basilares da faena.
No entanto, quando essa mesma emoção escasseia ou quando o público não sabe exactamente o que procura numa corrida de toiros, a arte executada pelo homem tende facilmente a declinar para uma espécie de espectáculo artístico circense. Sempre assim foi e sempre assim será! Torna-se mais cómodo para o homem que se encontra na arena e mais apropriado para o “pagante” que não sabe o que está ali a fazer.

O Circo com animais tem uma lógica definida de espectáculo, que consiste em demonstrar o talento do homem que doma animais domésticos ou selvagens, com o objectivo principal de contemplação e divertimento do público.
Ora, sem qualquer desprestígio para o Circo, julgo que a Tauromaquia não deve enveredar por trajectos circenses. A propósito disso, o slogan “ Vá aos toiros e divirta-se” é para mim um insulto ao toiro enquanto animal superior, comparando-o à foca do circo.
Por exemplo, quando eu vou a um concerto de música clássica, vou para apreciar o expoente máximo da música enquanto arte. Mas se for ao Rock In Rio aí sim, vou para me divertir.

Outrora e em tempo idos, quando ainda nem a família Romero sonhava com toiros, os primórdios da Tauromaquia passaram por espectáculos em coliseus romanos, onde o toiro era sujeito a confrontos até à morte com outros animais selvagens, tais como leões ou elefantes. Os que mordiam davam dentadas, os que pisavam espezinhavam e os que investiam marravam!
Hoje, Pedro Romero figura em velhinhas enciclopédias tauromáquicas entre milhares de livros de temática taurina que foram escritos e editados, onde a técnica, a estética, a história, a filosofia, a música, e tantos outros aspectos e conceitos taurinos são linhas mestras bem definidas, a seguir por quem lida e por quem assiste.

No meu caso e quando vou aos toiros, aguardo sentado para ver apenas uma coisa: uma sorte bem executada: seja um ferro, um natural ou uma pega, resultado do encontro entre um toiro de lide saudável e bravo e um homem com técnica e cultura suficiente para pincelar com a sua inteligência algo que se possa equiparar a arte.
Tudo o resto, são adornos secundários, cada um com o seu devido valor, antecedendo ou rematando as sortes que decorrem num espaço de tempo de 3 horas em Portugal e 2 horas em Espanha.

Face ao exposto, julgo na minha modesta opinião que o cavalo não deve morder o toiro que está a lidar na mesma dimensão que não pode ser colhido durante a lide.
Em tauromaquia a fronteira entre cavalo e toiro é o Homem. Só assim e à imagem dos tempos actuais e vindouros, haverá condições para esta arte perdurar.

José Maria Portela