Segundo aprendi, Arte é entendida como a actividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objectivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores, dando um significado único e diferente para cada obra de arte.
Ora, sendo a Tauromaquia uma forma de arte e não um desporto ou tradição, a lide de um toiro, segundo o meu ponto de vista deve ser entendida e apreciada como uma obra de arte.
Não fugindo ao assunto e referindo-me aos ingredientes essenciais da lide de um toiro, tal como está descrita na literatura antiga e/ou actual, o sentimento de emoção resultante do factor perigo numa corrida de toiros é uma das pedras basilares da faena.
No entanto, quando essa mesma emoção escasseia ou quando o público não sabe exactamente o que procura numa corrida de toiros, a arte executada pelo homem tende facilmente a declinar para uma espécie de espectáculo artístico circense. Sempre assim foi e sempre assim será! Torna-se mais cómodo para o homem que se encontra na arena e mais apropriado para o “pagante” que não sabe o que está ali a fazer.
O Circo com animais tem uma lógica definida de espectáculo, que consiste em demonstrar o talento do homem que doma animais domésticos ou selvagens, com o objectivo principal de contemplação e divertimento do público.
Ora, sem qualquer desprestígio para o Circo, julgo que a Tauromaquia não deve enveredar por trajectos circenses. A propósito disso, o slogan “ Vá aos toiros e divirta-se” é para mim um insulto ao toiro enquanto animal superior, comparando-o à foca do circo.
Por exemplo, quando eu vou a um concerto de música clássica, vou para apreciar o expoente máximo da música enquanto arte. Mas se for ao Rock In Rio aí sim, vou para me divertir.
Outrora e em tempo idos, quando ainda nem a família Romero sonhava com toiros, os primórdios da Tauromaquia passaram por espectáculos em coliseus romanos, onde o toiro era sujeito a confrontos até à morte com outros animais selvagens, tais como leões ou elefantes. Os que mordiam davam dentadas, os que pisavam espezinhavam e os que investiam marravam!
Hoje, Pedro Romero figura em velhinhas enciclopédias tauromáquicas entre milhares de livros de temática taurina que foram escritos e editados, onde a técnica, a estética, a história, a filosofia, a música, e tantos outros aspectos e conceitos taurinos são linhas mestras bem definidas, a seguir por quem lida e por quem assiste.
No meu caso e quando vou aos toiros, aguardo sentado para ver apenas uma coisa: uma sorte bem executada: seja um ferro, um natural ou uma pega, resultado do encontro entre um toiro de lide saudável e bravo e um homem com técnica e cultura suficiente para pincelar com a sua inteligência algo que se possa equiparar a arte.
Tudo o resto, são adornos secundários, cada um com o seu devido valor, antecedendo ou rematando as sortes que decorrem num espaço de tempo de 3 horas em Portugal e 2 horas em Espanha.
Face ao exposto, julgo na minha modesta opinião que o cavalo não deve morder o toiro que está a lidar na mesma dimensão que não pode ser colhido durante a lide.
Em tauromaquia a fronteira entre cavalo e toiro é o Homem. Só assim e à imagem dos tempos actuais e vindouros, haverá condições para esta arte perdurar.
José Maria Portela