Um confronto de futurismo-Surrealismo
e
Um “outsider” representando o classicismo
Partindo do principio que o conceito de arte na pintura pode ser extrapolado para a arte de tourear a cavalo, direi que no Montijo estiveram os aficionados perante dois interpretes do futurismo-surrealismo e um outro interprete do classicismo impressionista.
Li numa enciclopédia que o futurismo define-se pelo movimento que rejeitava o moralismo e o passado, e suas obras baseavam-se fortemente na velocidade e traço forte, com uso de cores vivas e contrastes, sobreposição de imagens, traços e pequenas ou mesmo grandes deformações para passar a ideia de movimento e dinamismo.
As características do surrealismo são: uma combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência quotidiana, buscando expressar o mundo da aparência do inconsciente.
Quanto ao classicismo li que, lato senso, é a arte clássica, que na atitude estética segue os cânones dos povos, como a pintura da Alta renascença, ou a pintura de Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo e Rafael
Monet disse que o classicismo é “a arte da beleza tranquila”; e Wölfflin diz que é a beleza libertadora que desfrutamos como um bem-estar geral e uma intensificação uniforme de nossa força vital. Em suas criações perfeitas não se encontra nada perturbador, nenhuma inquietação ou agitação – todas as formas se manifestam de forma integral, que se tomam o padrão, por excelência. Embora o surrealismo tenha um corte com o passado e por isso nada tenha que ver com o clássico nalguns casos pode ir buscar detalhes como a obtenção de diferentes cores, utilizando pinceladas de cores puras que colocadas uma ao lado da outra, são misturadas pelos olhos do observador, durante o processo de formação da imagem.
Há uma verdade insofismável que é esta: “A arte clássica atravessa os tempos, os outros estilos de arte marcam épocas, ficam na história mas têm um Boom, a que se segue um declínio até estabilizar no tempo, vide o caso”El Cordobés”.
Meus senhores, sem tirar a qualquer uma das escolas citadas, para pôr na outra, antes reconhecendo a cada uma os seus méritos, a verdade é que Moura e Ventura mostraram os seus dotes nos compridos medidos, nos recortes, no movimento e no ritmo, nos ladeares, nos ferros com batida ou a quiebro, nas mordidelas e em todo um espectáculo que a maioria do público aplaudiu de pé, vibrou entusiasmado com o que viu, e no fundo o público é quem manda…
Moura Caetano pôs nos compridos a sua marca, tal como nas preparações e execuções das sortes, ao mesmo tempo que carregou de emoção alguns dos seus ferros e o público entendeu que estavam perante um toureio mais calmo, mais repousado.
Gostava de recordar que Duarte de Almeida refere na sua enciclopédia com o maior respeito e admiração á “sorte de caras emendando a viagem” como tendo uma realização semelhante à sorte de caras propriamente dita, com a diferença porém de o cavaleiro partir para o toiro desviando a marcha para o seu lado direito, só realizando o desvio para a esquerda quando o toiro chega à jurisdição. Pois é a esta sorte que estava em desuso, que Moura Caetano repôs ontem tal como faz com a maioria dos toiros, dando-lhe dimensão.
Com uma praça cheia o público divertiu-se, quem quis viu diferenças aplaudindo em conformidade com o que mais o impressionou, quem não quis ou não tem opinião aplaudiu globalmente, e os forcados facilmente pegaram os seis toiros á 1ª.