Meu caro João,
Há pouca gente que interesse, como sabes, neste meio dos bois. Eu chamo-lhe assim e não tenho medo que me acusem de dizer “bois” em vez de toiros, como deve ser “políticamente correcto”. Entre os que interessam, estás tu. Por muitas e variadíssimas razões.
És mais “velho” que eu uns anitos, mas ao longo dos tempos aprendi muito contigo. Percebes de cavalos – e, para mim, eles são todos iguais. Percebes de toiros – e eu percebo cada vez menos disso.
Cruzámos os nossos caminhos por muitas vezes. Pelo fado. Cantas bem e não gaguejas, os gagos não parecem sê-lo quando cantam. Eu canto mais ou menos, mas já cantámos juntos. Lembras-te daquela vez, há imenso tempo, no “Painel do Fado”, com o Manel Jorge de Oliveira? Já não te deves lembrar (raio da idade…), mas eu (ainda) me lembro e bem.
Não tinha nada que vir aqui escrever. Mas tu pediste-me. E eu nunca digo “não” aos amigos. Sabes bem (“tou” um vaidoso dos diabos) que vais subir as audiências do teu “blogui” com um textinho meu… e eu estou cá p’ra isso, meu sacana!
Guardo de ti as primeiras recordações do tempo em que, Amigo (contigo, Amigo escreve-se sempre com letra grande!) de meu Pai, foram todos (o Manel Lamas também) presos no Bairro Alto por terem defendido as damas, face aos impropérios de uns vândalos. Lembro-me das tuas “guerras” com o meu saudoso Amigo Camacho, que também era teu e depois deixaram de o ser (que estupidez). Lembro-me de actuar contigo em alguns Festivais da Amizade, naquele em Almeirim, por exemplo, onde peguei um novilho em pontas (que se desembolou) contra a vontade do director de corrida, que era o saudoso Eduardo Leonardo, quanto tu foste parar ao hospital com “uma asa” partida porque caíste do cavalinho no páteo de quadrilhas, antes mesmo do espectáculo começar. O vinho faz efeito, às vezes…
Lembro-me de muita coisa, mas não é isso que venho aqui dizer. De ti, lembro-me sempre, nunca esqueço, da forma como cultivas a Amizade. E é por isso mesmo que estou aqui.
Sou um puto ao pé de ti, mas sou muito melhor que tu – em termos de informação taurina. E tu reconheces isso. Fiz um raio dum “blogui” há dois anos e quase meio e fiquei “marado” quando soube as audiências que tinha – mais de 25 mil visitantes por semana.
Acabei com o jornal, temporariamente – onde te “lancei”… - se calhar devia mas era ter-te lançado do Guincho para o mar, ali das arribas… - mas não para sempre.
Vieste a público, mal de ti se não tivesses vindo, trazer-me a tua solidariedade – e a tua Amizade (que é tanta). Escreveste que o jornal fazia falta (pois faz) e que o “blogui” não era bem a mesma coisa. Entretanto fizeste o teu – que eu acompanho todos os dias e de que gosto muito.
Explico-te, João: o “blogui” tem mais força que o jornal. Quem me dera vender 25 mil exemplares por semana – e tenho mais de 25 mil visitantes por semana aqui na internet! Claro que o público, aqui, vem e não paga 2 euros por semana. Mas pode-se compensar isso com os apoios publicitários – das empresas, dos toureiros, de todos. Só um “urso” é que não quer anunciar num espaço que é visitado por mais de 5 mil almas por dia e mais de 25 mil por semana. Entendes?
Não sei, a sério, quando saio para as bancas com o “Novo Farpas”. Era para ser em Setembro, pode ser que seja só em Outubro. Preciso muito de descansar. De recuperar, ao lado da Rita e dos miúdos, o tempo que me gamaram no Linhó. De terminar o meu livro. Pensas que és só tu que escreves livros?...
Mas tudo isto para dizer que agradeço, com um beijo, a tua solidariedade, a tua amizade. E que quero que o teu “blogui” tenha tanto sucesso quanto o meu já tem. Tens-me aqui, a teu lado, como sempre.
Toma lá um abraço. Para ti, mas também para todos os que agora escrevem aí a teu lado. O “Diablo” inclusivé. Que tem andado arredado. Compreendo. Tem menos tempo, com tanta tourada para promover… ahahah!
Gosto muito de ti, João!
Miguel Alvarenga