MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Coronel  José Henriques solidário com Bernardo Patinhas

"Chegou ás nossas mãos esta carta que passamos a publicar"

Meu caro Bernardo Patinhas.


É profundamente triste e preocupado que te escrevo esta carta, fruto das notícias que me chegaram aos ouvidos nestes últimos dias. E escrevo-te triste e preocupado, muito mais na condição de antigo forcado amador do nosso querido Grupo de Évora, do que na condição de teu amigo e, sobretudo, na condição de amigo do teu Pai, o meu Cabo que nunca esqueço e que tanto admiro, o grande João Nunes Patinhas.
Aos ouvidos chegaram-me notícias de uma rara situação de revolta interna, de um orquestrado “golpe de estado” como lhe chamou um forcado fundador do nosso Grupo, “golpe” esse que tem como objectivo imediato a tua saída de Cabo do Grupo e a tua substituição por um dos rapazes que, valha a verdade, mais nome nos tem dado nos tempos actuais da nossa gloriosa instituição.
Porém, é precisamente por isso, pelo nome que ele nos tem dado e pela obrigação que sobre ele pesa por ser um dos forcados chave do Grupo actual, que a minha tristeza e o meu espanto me levaram a escrever-te esta carta.
Melhor do que ninguém, tu e ele sabem que um forcado, seja ele de que grupo for, pega os toiros que o seu cabo lhe destina, independentemente da praça, da ganadaria, ou do cartel, e tem o dever moral de o fazer dando o “corpo ao manifesto”, em nome da honra do seu grupo e do prestígio da sua jaqueta. E melhor do que ninguém ele sabe que tu, Cabo eleito do Grupo de Forcados Amadores de Évora, lhe tens dado a oportunidade extraordinária de se salientar de entre a forcadagem actual, ganhando um nome, uma fama e um prestigio que, de outra forma, provavelmente nunca chegaria a ter.
Assim, e porque lhe conheço as origens, que são as mesmas dos meus filhos e netos, e porque sei da profunda nobreza e verticalidade dessas mesmas origens, é que pasmo por o ver metido nesta aventura, e cabeça visível de tão absurda revolta.
E digo cabeça visível porque, segundo toda a informação que de várias fontes me tem chegado, existe alguém que maneja (de facto) os cordéis deste movimento de revolta, e um alguém que, por respeito a todo um passado de entrega e responsabilidade de chefia do nosso Grupo, tem o dever moral e a divida de gratidão, de ser o primeiro entre todos nós a opor a sua figura e o seu prestígio a toda e qualquer tentativa de absurdo divisionismo que possa sequer beliscar o nome, a história e o passado da instituição a que, voluntariamente, tanto nos orgulhamos de pertencer.
Dói-me pois tudo aquilo que tem chegado ao meu conhecimento, e dói-me tanto mais quanto sei, todos nós sabemos, que ao contrário da frontalidade, do “cara a cara”, e até da corajosa arrogância que caracterizou a tristemente célebre “dissidência” dos finais dos anos setenta do passado século, esta revolta actual, este “golpe de estado” de consequências imprevisíveis para o nosso Grupo, tem como estigma o secretismo do conciliábulo, como base a exploração da ignorância, e como motor o desastre de uma ambição escondida, pecado capaz de destruir toda a obra, todo o nome e todo o passado de quem (e desejo ardentemente que assim não seja) se tem nele envolvido.
Meu Caro Cabo Bernardo.
Circunstancias da minha vida profissional levaram-me a um afastamento físico da vivência íntima do nosso glorioso Grupo de Évora, mas nunca, no meu coração de homem e de aficionado, ele deixou de ocupar um lugar privilegiado, feito de carinho, saudade e devoção. E só Deus e eu sabemos o que ainda hoje sofro quando o vejo em Praça, garrido, valente, coeso, animado sempre daquela galhardia e daquela fraternidade que, ao longo de quase cinquenta anos, têm sido o seu brasão de armas e a sua mensagem na Tauromaquia Nacional.
Grupo de Forcados Amadores no mais puro sentido do termo, o nosso Grupo não é, verdadeiramente, nem melhor nem pior do que os outros….
…..Mas é, sem dúvida alguma, um Grupo diferente!
Espero sinceramente que os actuais forcados do Grupo, sejam eles quem forem e estejam eles de que lado estiverem, saibam ler esta carta que te deixo, a ti que és o Cabo eleito por vontade do próprio Grupo, e que sigam com toda a força da sua “aficion” e do seu amor à nossa gloriosa instituição, o caminho do brio e da dignidade, do respeito e da fraternidade, que são a primeira e a última razão de quem, pelo simples prazer de o fazer, desce às arenas para pegar os toiros.
Com um abraço do teu amigo, sempre ao teu dispor e ao dispor do nosso Grupo….e com um sonoro “Venha vinho!!!”
Zé Henriques     
P.S. Se assim o entenderes, dá a esta carta a divulgação que quiseres.